quarta-feira, 6 de abril de 2011

O que eu vi, vivi e fui vencido (com orgulho)

Artigo-análise sobre a história das discussões sobre as eleições diretas na UFSJ

Vinicius Tobias,
do blog Anotações Burocráticas da Revolução




Há muito tempo queria escrever esse texto. Minha idéia era fazer um texto rememorando a trajetória de uma luta que travei antigamente – a luta às eleições diretas, que inclusive tá aqui nesse blog, no marcador “opinião”.


Naquela época achava que a eleição direta era a melhor opção para a política estudantil, pois a massa discente seria bombardeada (no período da eleição) por um sem numero de discussões políticas, campanhas, e coisas dessas muito positivas que sempre há em uma eleição. Inclusive também achava (santa e magnífica ingenuidade) que uma boa legislação garantiria o acompanhamento e o direito à revogabilidade do cargo pelos delegados do CA, e (assombrosa ingenuidade) que impediria que partidos políticos e interessados superiores financiassem tanto campanha de interessados, quanto as suas opiniões.

Ao escrever esse texto, sonhador, infantil, encontrei vários parceiros de luta. CA’s do CTAN que não se sentiam representados na época, e outro, mais antigo que vinha no papel de formador de opinião e liderança. E ora, não quero cometer o erro que outrora os que critico cometem, não quero construir uma argumentação excluindo os pontos que discordam de mim como não o fiz no antigo texto e não farei agora; não quero dizer que a instituição da qual eu me sinto incluso agora não errou nunca. Esse quadro só foi possível, pois, naquele período havia sim, uma grande falta de participação e contato com os definidos CA’s, mas isso não vem em conta agora.

Sendo contrário do que dizem denuncias públicas sobre o DCE criminalizar e perseguir quem hoje, defende as eleições; quando eu me propus a discutir; eu me deparei diante de gente muito bem formada politicamente, que tinha certeza do que defendia, que era forte ao defender seus ideais, e vendo esse pessoal todo muito bem estruturado, eu que nunca gostei de uma briga (há) caí a pau. Mas não foi no mal sentido não, discuti horas sobre essas questões, as pessoas não queriam me calar, ao contrário as pessoas do DCE queriam que eu falasse, promoveram meu texto em sua lista de e-mails, criticaram-na duramente, como é certo que se façam quando não se concorda, sentavam comigo em bares, me adicionaram no MSN e a discussão aconteceu. Chegavam outras pessoas para mim e diziam “olha como difamaram sua idéia, como desclassificaram seu texto, isso se caracteriza como perseguição”. Num primeiro momento se aceita aquilo que te contam, mas refleti,

refleti sobre meus atos, refleti sobre como sempre me posicionei nas minhas discussões, tentaram me tornar vitima, mas a vitima é ofendida, e eu acredito que para se ser ofendido em política tem que se ter algo a esconder, eu nunca tive, então não fui vitima, nunca serei, serei sim adversário.

Acontece que nossa mobilização, a da Liga de CA’s do CTAN (esse foi o nome heróico que demos à nossa organização), foi se tornando aos poucos massa de manobra para eleição, e era tão gritante a situação que esquecíamos aos poucos pelos ideais pelos quais tínhamos decidido lutar e saímos pra falta de limites. E foi nesse ponto que a ingenuidade foi quebrada, por que meus amigos, ninguém me contou, eu vi.

Eu vi, eu vi pessoas tentarem fazer os CA’s combinarem voto sem consulta às bases, eu vi reitoria escolhendo seu candidato, eu vi um Conselho Universitário não aceitando a legitimidade do voto da CEB quando seu candidato não era eleito, eu vi sede de poder e partidarismos sujos por parte de candidatos, eu vi delegados chegarem na CEB e falarem “não vamos votar porque senão nossa semana acadêmica não sai”, e eu pus a boca no trompete. (puts trompete é muito mais legal que trombone)

O melhor jeito de ver o caráter de uma pessoa é a contrariando, assim você pode ver direitinho como ela tolera a diferença. Por isso que eu adoto isso como uma prática de vida. Contrariei o DCE e este me veio com propostas de discussão, contrariamos a reitoria e... esta, veio com pedras, ameaças e autoritarismo; do mesmo jeito que vem agora, quando quer decidir sem consultar os alunos, pela forma como votam. Aliás por uma demanda da reitoria, pois a única demanda pelas diretas, já manifestadas pelos alunos foi a que comecei e que foi vencida na argumentação.

E é por isso que eu mudei de opinião, não por puro conhecimento de como as estruturas políticas funcionam, isso influenciou, mas o mais importante, eu fui vencido na argumentação. Fui, admito, meus argumentos não conciliavam com meus ideais, eu estava redondamente errado e estou convencido que o CEB-UFSJ é uma das melhores formas de organização política hoje, e que deveria ser usado em todas as organizações desse país. Sabe, quem não muda de opinião e é fechado à argumentação (como a maioria dos conselheiros do CONSU, que perderam na argumentação, mas não apontam nenhuma abertura à discussão) não faz política, faz comércio ou religião. Mudei de opinião sim e tenho orgulho e quero sempre tá nessa transição. Não acho que todos tenham que ter a mesma opinião que eu, mas acho sim que todos tem que se dispor a discutir e estar aberto a todos os argumentos. E se esse for o caso, aceitarei mais uma vez, estar defasado

Eu vi, ou melhor vivi, e eu não duvido de meus olhos e ouvidos.
E tendo vivido, só posso ser fiel à minha integridade. Não tenho escolha senão lutar

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