terça-feira, 19 de outubro de 2010

DCE PROPOSITIVO?



Por André Luan Nunes Macedo

Gostaria de discordar do companheiro Filipe em alguns pontos que considero fundamentais. Primeiramente, começando pela análise de conjuntura:

“O último ano possibilitou renovação e retomada do diretório com hoje perspectivas de grandes melhorias a que se deve dedicar. O final do ano de 2009 e os meses de término deste ano mostram a volatilidade a qual o modelo está vulnerável. A participação é condicionada fundamentalmente por fatores acadêmicos, conscientes e conjunturais. Ao primeiro deve-se o fato de grande parte da volatilidade tratada com reflexo no segundo e terceiro. Os estudantes se organizam em prioridades, sendo momentos de maior folga acadêmica coincidente ao período de maior participação espontânea, considerando o Movimento Estudantil em outros locais e até mesmo em nosso movimento específico, forma-se deste ponto dois extremos: militantes profissionais, e não participação.”[grifos nossos].

Quanto ao primeiro grifo, um comentário e uma questão: a idéia de modelo transmite a imagem de um “DCE-máquina”- idealista onde todos os CA’s participam com uma funcionalidade perfeita. Prefiro o termo experiência DCE UFSJ, pois ele abre espaço para compreendermos os fluxos, refluxos e contradições (extremamente comuns) no movimento estudantil. Essa visão de volatilidade é equivocada, pois quando os CA’s se sentem agredidos, logo resistem e constroem em conjunto o CEB (vide esse ano com o CONSU, e mesmo antes com a ocupação da reitoria, ou com a greve de Divinópolis). Se a experiência fosse tão volátil assim, certamente não conseguiríamos reunir os CA’s para construir um Arraial e nem uma Calourada esse ano.
Realmente não entendi o problema colocado quanto à discussão de “fatores acadêmicos, conscientes e conjunturais”. Daí, pergunto: o que se quer de estudantes quando participam do movimento estudantil que não seja, prioritariamente, discutir suas pautas específicas? Discuti-las atrofia sua experiência? O que se identifica como algo pejorativamente espontâneo é mais um equívoco, pois nada mais é do que a centralidade da luta dos estudantes sobre suas pautas. Os estudantes não participam do Movimento Estudantil da UFSJ? Volto a lembrar do CONSU e de tantas outras lutas já aqui mencionadas.
Nesse sentido, não acredito em um problema estrutural, e sim numa conjuntura que, por ser conjuntura, tem aumentos e quedas de participação. Talvez a tática do desespero e da pressa estejam influenciando na análise. Precisamos de calma, ligar para os CA’s, divulgar as informações, etc. Enfim, precisamos de trabalhar! Infelizmente, não temos feito isso somente nessas últimas semanas, que é responsabilidade também dos delegados dos CA’s. Sobre nosso movimento ter militantes profissionais, discordo categoricamente. Primeiro porque se o termo for sinônimo de “estudantes profissionais”, já acabamos há muito tempo com essa lógica. E pagamos por ela também, por isso ficamos tão incomodados em não termos uma constância-máquina da idéia de modelo. Em nenhum DCE do Brasil existe uma pluralidade de idéias e estudantes comprometidos com seus estudos. Nunca enxerguei isso como academicismo, mas como uma prática totalizante, onde o militante entende a sua relação com os estudos e a sua atuação institucional, numa perspectiva mais saudável e inteligente. Ou queremos uma burocracia que tome conta de tudo e que privilegiemos os “aristocratas estudantis” (termo mais eficiente para definir estudante que só quer saber de fazer movimento, negando o seu papel profissional que é ser estudante)?
Quanto ao segundo trecho a ser comentado, acredito que seja esse o maior ataque à nossa estrutura organizativa, um retrocesso ao poder das entidades de base:

O Conselho de Entidades de Base, ao passo que condiciona maior participação exige maior tempo e dedicação. O Conselho Diretor tem por função, em acordo com o artigo 21º de nosso estatuto, ser um órgão deliberativo e executivo, negando a executiva o poder decisório, o que não lhe nega a condição de ser propositiva. Os estudantes não-orgânicos, delegados e membros da executiva possuem papéis diferenciados, do contrário a executiva tornar-se-ia desnecessária assim como os delegados. A condição de não-direção motiva limitações à executiva, há primeiro que se desmistificar o termo para entendê-lo no sentido de nosso modelo. Direção é entendida aqui como pessoas destacadas para exercer sua função em momentos que não do conselho, seja para convocá-lo, para resolver impasses burocráticos, se antecipar aos problemas, em síntese: melhorar a atuação da organização em todos os sentidos. O que não se decorre daí é desligá-la do Conselho Diretor, mesmo por que é apenas parte dele, as ações devem estar em consonância a tal conselho, mas não restritas a ele - para eficiência do movimento. A revogabilidade do mandato é o mecanismo de poder dos delegados sobre os executivos que não entenderem ou usarem desta condição de forma errônea

Acho que o companheiro Filipe não foi mal intencionado quando trouxe essa contribuição. Mas acho que ela é um tiro no pé. Como já disse anteriormente, coloca-se um problema estrutural numa contradição que é conjuntural. Nosso DCE, mesmo com o poder das bases, já teve sua executiva com um caráter propositivo, e negou essa “autonomia relativa” da Direção. Dar o poder de revogar o mandato dos executivos é ótimo, mas não é o suficiente. É necessária a direção se educar com a sua base, fazer a autocrítica, saber que não é iluminada e que muitas vezes tem que “rebaixar suas concepções” para atender os interesses da maioria. Esse é o trabalho fundamental do nosso DCE. Se perdermos isso, estamos derrotados. Formalizar reuniões propositivas da executiva é dar esse tiro no pé. E tem mais, se eles chegam com concepções pré-formadas nas reuniões e apresentam isso para o DCE, elas não desburocratizam, mas criam um fator de diferenciação que tanto repudiamos nos demais DCE’s, que é a especialização de direção no movimento estudantil.

Acredito, e muitos com que já conversei também acreditam nessa análise. Tenhamos paciência com a falta de participação, com os refluxos. Não tenhamos pressa. Por mais bem intencionada que ela seja, ela é inimiga do trabalho em conjunto e da discussão democrática e coletiva. Não cometamos os erros que já superamos, como esse de ter uma Diretoria propositiva.
Concordo com as reuniões de planejamento e estruturação da Executiva, mas sou contra qualquer proposta que venha com ares de cima pra baixo.

Abraços,
André Luan

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