segunda-feira, 28 de junho de 2010

Intervencionismo, censura política e ideológica no movimento estudantil da UFSJ: traição e oportunismo

Por Lucas Henrique Pinto[1]

Gostaria como ex-representante discente no Consu fazer algumas observações sobre o atual conflito.


Creio que além do importante debate que vai ser a final, indicar o representante discente para o cargo, a questão da intervenção na autonomia organizativa do movimento não pode deixar de ser debatida.


Indo um pouco atrás na história recente da UFSJ é fácil lembrar um fato bem marcante dessa prática intervencionista pelos dirigentes da universidade. Quando na reunião que convocamos para o Consu como uma das reivindicações para desocupar a reitoria em 2008, a todo o momento era questionada a “legitimidade” da ação (ocupação da reitoria) do Movimento. Baseado na simples relação numérica provamos que em uma universidade que tinha na media de 4 mil estudantes na época, ter uma ação política que contava com a participação efetiva de uma media 150 estudantes alternando picos de 200 a 300, com a partição de 130 estudantes em uma assembleia a 1 da manhã, não podia ser questionada do ponto de vista de que era uma reivindicação legitima ou não, por partes dos estudantes, ou uma mera jogada política de um pequeno grupo de “lideres” (que foram levados a justiça federal), como queriam caracterizar a ação dos dirigentes da instituição.


O fato mais marcante desse episódio foi a forma como o reitor, e seus correligionários, se achavam no direito de intervir na autonomia organizativa e diretiva do movimento, crendo se tratar o DCE de uma pro-reitoria mais ou uma secretaria de curso, onde os seus membros deviam explicação e respeito direto (em bases de uma submissão hierárquica) a vossa magnífica autoridade superior, e a suas vontades e caprichos.


O movimento estudantil é uma forma de organização autônoma (política e não administrativa) e independente por parte dos membros discentes da instituição, onde somente os estudantes devem e podem questionar as formas e atos organizativos do mesmo. Qual legitimidade o reitor (a partir da CGU ou de suas secretarias), que é um professor, tem para questionar a legitimidade e/ou legalidade das formas organizativas do movimento? Seria o mesmo que se nos estudantes fossemos a uma reunião do sindicato dos professores e questionássemos o seu estatuto e o nome dos representantes por eles elegidos. Logo, um sindicato como qualquer outra forma de reunião coletiva de um grupo de indivíduos com fim de representar um segmento específico em uma sociedade ou em uma instituição, é livre para escolher os representantes que quiser nas formas que quiser (a democracia, ou não, nesse caso é interna, pois, um professor ou funcionário administrativo da universidade não pode eleger nem ser eleitos em nenhuma instância do movimento estudantil, logo não cabe a estes nenhum tipo de questionamento, político ou normativo de como o movimento assim o faz). Ficando assim as bases de legitimidade e legalidade das indicações do Movimento restritas a que não se desrespeite as formas já acordadas por esse mesmo grupo, em seu estatuto e/ou regimento interno, podendo ainda que não desrespeite o estatuto, ser questionada, mas pelos estudantes e a partir de demandas do/as estudantes.


Qualquer forma de questionamento da legitimidade de um grupo que não parta única e exclusivamente das demandas e questionamentos dos membros/representados desse mesmo grupo, pode ser considerado intervencionismo; censura política e tentativa de manipular a entidade dos estudantes por parte da direção da universidade, configurando se como um ato de censura e tentativa de evitar criticas e denuncia as formas de administrar a universidade e suas possíveis falhas e equívocos.


Sem entrar no mérito de quem vai ser o membro discente no Consu, (lembrando que no DCE UFSJ a revogabilidade dos cargos é uma premissa do estatuto da entidade), não podemos aceitar, se é que vivemos em uma sociedade “democrática”, que órgãos diretivos censurem e policiem as formas organizativas do ME. Seja essa perseguição político-ideológica feita por eles mesmos (CGU, reitor etc.) ou por outros “estudantes”, que tem todo direito de pensar diferente, mas que nos envergonham na sua nítida submissão ao reitor por debilidade ideológica (capacidade de pensar por sua própria cabeça) e/ou mesmo pela mesquinha e egoísta oportunidade de ganhar “apoios” do reitor em cambio de trair e mesmo servir de fantoche da direção da universidade na autonomia política e organizativa da entidade que os representa.


Lembremos todos das vitorias do ME na historia da universidade publica brasileira, a nossa participação (mínima) nos órgãos diretivos é uma conquista política histórica e não um favor do reitor. Muitos estudantes professores e técnicos foram mortos, desapareceram na ditadura militar e muitos outros foram expulsos das universidades por reivindicar esse direito. Temos sim o direito e não é um favor do reitor que participemos dos conselhos diretivos da universidade (lembremos que a direção democrática da universidade esta na LDB). Temos também autonomia política e organizativa para indicar aquele que no momento este mais preparado para assumir tal tarefa, tendo em vista o seu histórico de participação na entidade e proposta para assumir tal cargo (independente do curso que esteja). E mesmo a confiança política, tendo em vista a nítida falta de sentimento de classe por partes de muitos estudantes que querendo seguir a carreira acadêmica fazem de tudo para terem bolsas, projetos etc., nos moldes do oportunismo das modelos que ficam famosas por irem para a cama com os fotógrafos e donos de agência (vergonhoso).


Abaixo o intervencionismo no movimento estudantil.

Por uma universidade pública gratuita e de qualidade!



Viva a história dos heróis que deram as suas vidas pelo direito a autonomia política dos estudantes.


Abaixo o peleguismo, e o oportunismo de última hora.

[1] Ex-militante do movimento estudantil da UFSJ e ex-representante discente no CONSU-UFSJ no período de setembro de 2007 a Março de 2009.
Abaixo o peleguismo, e o oportunismo de última hora.

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